O Tetris de Sá Carneiro: Os Meus Primeiros Dias no Parking

Quando as pessoas pensam em trabalhar no aeroporto de Sá Carneiro, imaginam a emoção das portas de embarque, o ir e vir dos pilotos ou o ambiente internacional do terminal. Eu, em contrapartida, aterrei no asfalto. O meu novo posto era num parque aeroporto sa carneiro, e aprendi na minha primeira hora que este trabalho é o coração logístico que bombeia na sombra.

O meu primeiro dia foi um batismo de ruído e gasóleo. O estrondo constante dos aviões a descolar e a aterrar não é um som de fundo; é o metrónomo que marca o nosso ritmo. Um avião que levanta voo é um cliente que já tem que estar no terminal. Um avião que aterra é uma carrinha de cortesia que tem que estar pronta para recolher viajantes cansados.

Pensei que o meu trabalho seria simples: vigiar carros. Que ingénuo. Rapidamente descobri que isto é um «Tetris» à escala real, jogado contra o relógio. O meu uniforme é um colete refletor e a minha ferramenta principal, um walkie-talkie que nunca se cala: «Recolha nas Chegadas», «Cliente para a Ryanair das 7:10», «Move o Audi cinzento para a fila C».

O mais impactante é a confiança. As pessoas chegam com pressa, com a adrenalina da viagem. Olham-nos com uma mistura de ansiedade e súplica: «Chegarei a tempo?». E então ocorre o verdadeiro salto de fé: entregam-me as chaves do seu carro. Um carro que pode valer mais que o meu ordenado de vários anos. Sobem para a nossa carrinha e, enquanto os levamos ao terminal, o seu carro converte-se na nossa responsabilidade.

Depois vem a calma tensa da noite. Quando o aeroporto reduz a marcha, nós organizamos. Conduzir esses carros na escuridão do parque, sob a luz laranja dos candeeiros, alinhando-os com precisão milimétrica, enquanto o último voo para Madrid ruge sobre a minha cabeça.

Não estou na parte glamorosa da viagem. Não vejo as despedidas emotivas na porta de embarque. Mas aprendi que somos a primeira e a última cara que o viajante vê. Somos os guardiões das suas viaturas e os que garantimos que a sua viagem comece e termine sem um contratempo. Aqui, no asfalto do Porto, a pontualidade não é uma virtude, é o único modo de sobreviver.